quarta-feira, abril 19, 2006

Quando as "Estatisticas" deixam de ser simples "Estatisticas"



"Após o rescaldo da Operação Páscoa, a Brigada de Trânsito aponta os seguintes números:

...
- 10 mortes.
..."

E mais uma época de férias normal com um número "normal" de acidentes, com mortos e feridos. Por muito sensiveis que possamos ser estes números apesar de assustadores, a verdade é que nos passam um pouco ao lado. Até ai dia em que associamos uma cara, um nome, uma pessoa que nos é conhecida a estes "dados estatisticos".

Não posso dizer que conhecia o Francisco, mas posso afirmar que conhecia o Dino, assim como, e arrisco dizer, a maioria de nós o conhecia. Quem me lê desde o início sabe que sou um espectador assiduo da série/novela Morangos com Açucar, e não vou fingir que esta cara no meio das estatisticas desta Operação Páscoa, não me tocou cá no fundo. Uma cara a que estava e estou habituado a ver diáriamente, sempre com um sorriso, com uma alegria cativante, com um estilo que deixava quem quer que assistisse com um sorriso de orelha a orelha, com as aventuras, ou melhor, desaventuras desta personagem.

Não, não vou cair no marasmo de vir para aqui dizer que estará para sempre na minha memória, no meu coração, mas posso afirmar que este seu desaparecimento violento e trágico me tocou, mesmo cá no fundo, e mesmo que queira fingir que tudo isto me passou ao lado não consigo.

Primeiro porque o continuo a ver diáriamente na televisão. E talvez o motivo mais forte, porque todos os dias passo de carro pelo cruzamento que lhe roubou a vida, e as coroas de flores, as fitas, fotos, imagens, velas, tudo o que ali vão depositando, naquele santuário improvisado, que não deixa ninguém esquecer que ali morreu alguém, alguém que eu até certo ponto conheço, conheço o rosto, o nome, a voz, mas que não conheci nem conhecerei o homem por trás da personagem.

Querem saber porque se despistou ele? É simples, pelo mesmo motivo que todos os outros antes dele e os que virão depois se vão despistar, porque aquele cruzamento é um perigo para quem não o conhece. Mais de 2 Km de pura recta sem qualquer desvio seja para que lado for, acabam numa ligeira curva para a direita onde é o cruzamento, e foi essa ligeira curva que o traiu, a ele e a outros, completamente escondida na escuridão e desprovida de qualquer sinalização, onde subir com o carro o pequeno lancil que faz a separação das vias é algo estúpidamente simples, e depois... depois é tarde demais...

A Junta Autónoma de Estradas e as autarquias é que matam estas pessoas, pela deficiente sinalização ou simplesmente pela falta dela. Um país onde existe uma placa que indica "Perigo Estrada em Mau Estado", mas continuam a fazer obras megalómanas como estádios e marinas. Vergonha. É o que eu sinto, vergonha de viver neste país de merda onde a imagem de fachada de que somos um país civilizado e evoluido é tudo. Que se querem sentar à mesma altura que outros países que se sentam no banco mais alto, mas esquecem-se que assim mostramos que estamos descalços. Um país onde os senhores que estão à frente do barco apenas se importam em parecerem grandes senhores e cagam para a tripulação que faz o barco mexer.

Foi preciso alguém conhecido, alguém importante morrer ali para se falar que será aberto um inquérito e que a autarquia de Samora Correia será chamada à atenção como possivel responsável. Não sei se ouviram fazer referência a uma placa que se encontrava no local onde o Francisco morreu, uma lápide de mármore, com 1 nome e uma cruz. Helder. Quem era este Helder que não mereceu a atenção que o Francisco teve? Era uma criança, um bébé de meses que assim como o Francisco morreu ali vitima de um acidente em tudo idêntico a este. O Francisco teve azar, azar de o pequeno Helder não ser famoso, conhecido, porque assim talvez o cruzamento já estivesse iluminado ou pelo menos sinalizado.

Desculpem o desabafo, mas já andava com esta atravessada à muito tempo...

Com o desaparecimento do Francisco, ou o Dino como era conhecido, perdeu-se muito, mais que uma vida. Que tenha ao menos servido para alguma coisa...

sábado, abril 01, 2006

Cartas de Amor... Quem as não tem...

Hoje, por necessidade de encontrar um documento tive que dar volta a um sem fim de pastas e papelada que tinha para ali. No meio de tanta papelada encontrei algo que já nem me lembrava que ainda tinha, cartas de amor.

Quando as vi parei com a busca do documento perdido e sentei-me na cama a ler aquelas cartas. Datam de 1997. Como o tempo passa depressa...

São da minha 1ª namorada a sério, a mulher que por muitas que ame e por muitoas que ame mesmo muito, nunca me conseguirão fazer esquecer essa mulher. Foi ela que me fez o que sou hoje. Foi ela que me educou, que m ensinou o que é ser humano e que não tem mal um homem ter e mostrar os sentimentos. Uma verdadeira grande mulher que eu estupidamente perdi por não ter dado o valor que ela merecia e precisava, e bastantes vezes me tentou avisar disso, mas eu não quis ver, só percebi quando era tarde demais...

7 anos, 7 anos que por mais de 700 que viva nunca esquecerei e que me mudaram como eu nunca pensei que alguém em tão pouco tempo me pudesse mudar tanto.

Ler aquelas palavras embebidas em carinho, paixão, amor, fizeram-me recordar tanta sensação antiga, palavras que tinham um significado só para nós, como um código. Namoros do tempo que o telemóvel era coisa de ricos, mas nós lá juntámos uns cobres para podermos comprar cada um o seu, para mesmo longe podermos estar perto. Esse telemóvel trouxe-nos muitos problemas, porque a madrasta dela, ao contrário do pai, era completamente contra o nosso namoro, segundo ela, eu era pobre, vinha de uma familia pobre e como tal não era para a enteada dela (as voltas que a vida dá... hoje ganho mais do dobro que ela alguma vez ganhou...), mas contra a vontade dela, lá fomos contruindo a nossa relação, que apesar de tudo era excelente, já que contavamos com o apoio de toda a familia da minha namorada (na altura), e todos me tratavam bem e tinham noção que eu privar com eles tinha que ser um segredo bem guardado. Para a madrasta dela não saber que ela tinha telemóvel, nós tinhamos horas certas para ligar, sim, porque naquele tempo não havia cá telemóveis com vibração, era ou no modo cagaçal ou no modo calado.

Outra coisa que faziamos e que eu gostava tanto era escrevermos cartas para ler em alturas especiais, como por exemplo o Natal, que cada um tinha a sua festa, junto da sua familia. Escreviamos uma carta um ao outro entregávamos em mão e na noite de Natal, às 00:00 certas estava cada um em sua casa a ler as palavras do outro, e escreviamos como se estivessemos ali, juntos, chegando a descrever a festa e a pedir desculpa quando era altura de terminar porque já estavam à nossa procura.

Enfim... posso dizer que fiquei com uma lágrima no canto do olho, com saudades daquela mulher que eu perdi.

Mas nem tudo é mau, ela nesta altura está casada, e a 2 meses de ter um filhote. Fico muito feliz por ela. A melhor sorte do mundo e que seja sempre tratada como eu não a soube tratar, ela merece.

Para sempre no meu coração...