terça-feira, janeiro 31, 2006

Cruzes Credo!!!!


Este fim de semana estive a ver o filme português mais visto de todos os tempos. Claro está, estou a falar de "O Crime do Padre Amaro". Eu andava um pouco curioso por ver este filme, porque queria tirar a minha própria opinião sobre o se seria assim tão bom como o pintam. E Soraia Chaves à parte até gostei do filme. Não sendo nenhum especialista sobre o assunto religioso, posso no entanto dizer que estou bastante à vontade sobre ele, já que tenho o prazer de conhecer muitos padres, de ter frequentado seminários, de ter convivido com padres, cónegos, diáconos, por aí.

Que os padres têm uma grande vida, isso têm, se serão assim tão "tarados" como a imagem que o filme deixa passar... aí já não concordo tanto, mas uma coisa eu posso afirmar, são homens como os outros. Sentem as mesmas necessidades que os outros, pensam como os outros, têm os mesmos desejos que os outros, mas as suas escolhas fizeram com que mais facilmente que os demais consigam conter essas suas necessidades e desejos.

Mas o que é que isto tem a ver com o filme? O melhor mesmo é começar do principio.

Aqui à coisa de uns bons 11 ou 12 anos atrás, chegou um padre novo à aldeia. Um padre com 20 e muitos anos, nortenho, mas com um sotaque das ilhas. Para todos foi uma surpresa, já que até ali sempre tinham havido na paróquia padres já entradotes, com uma prespectiva face à igreja muito retrógrada. Aquele não. Jovem, e com uma mentalidade super aberta.

Cedo cativou a atenção de todos, especialmente dos jovens. Não se fazia rogado de se sentar no café junto do pessoal e mandar vir minis para todos e beber como "gente grande". Com o passar do tempo firmou os laços de amizade com o pessoal mais novo, mas não só. A Igreja que ao Domingo a quando da Eucaristia contava com a presença das chamadas de beatas, dos putos da catequese (os que iam) e dos catequistas (também os que iam), acabou por ser algo de quase obrigatório ao domingo por aquelas bandas. A Igreja que comporta com cerca de 70 ou 80 visitantes acabou por ser pequena para todos aqueles que queriam assistir à Eucaristia dita por aquele padreco novo que passa o tempo no café, mas que é um exemplo a seguir. Nunca as missas foram tão concorridas. Eu pessoalmente ganhei uma afinidade por ele que fazia com que sempre que não houvesse missa eu andava sempre com ele. Desde que as suas obrigações religiosas permitissem, estava sempre na paródia com o pessoal. Discotecas, festas da espuma, bares, bailes, ou simples ajuntamentos às tantas da manhã, à espera que a padaria cozesse os primeiros pães para que com um pouco de manteiga, queijo ou chouriço que algum ia "roubar" a casa, pudesse ajudar as minis a ir para baixo. Resumindo, um homem cativante, amigo do seu amigo, mas que sabia onde acabava a brincadeira e onde começava as responsabilidades do seu ofício.

Era olhado por todos, novos e velhos como uma figura exemplar, que não tinha medo de arregaçar as mangas e trabalhar como um mouro. Recordo-me de que quando chegou encontrou a casa da sacristia num estado de degradação tal que meteu na cabeça que aquilo tinha que ser tudo mandado a baixo e reconstruido. Assim foi. Todos ajudaram, e acabamos por com oferta da mão de obra e donativos para o material, construir uma nova sacristia que para ser sincero é qualquer coisa. 2 salões com mais de 50 m2 cada, uma sala com lareira, enorme, uma cozinha, e duas salas que são actualmente os escritórios da associação juvenil que posteriormente ajudou a fundar. Recordo-me de um fim de semana que com ele pintámos toda a torre da Igreja, mas sem andaimes... era mesmo ele tipo a fazer rappel pela torre com uma trincha na mão e toca de pintar, completamente de doidos.

Um outro episódio que recordo com muita saudade foi um que vivemos na quinta onde ele estava acomodado. A quinta havia sido um antigo convento, logo por aí podem imaginar o enorme que era. Dezenas de quartos, salões, salas e salinhas, corredores de perder de vista, claustros com jardim interior, um quintal de alguns hectares... enfim, enorme mesmo. e Tudo isto para apenas 2 padres, os únicos residentes da Quinta. Bom, resolvemos passar lá a noite. Éramos 4, eu, o padre, e mais dois. Um baralho de cartas, umas minis e uma garrafa de Gold Strike. Cartas daqui, cartas dali, minis dalém, a noite estava animada e resolvemos atacar a garrafa do Gold Strike. A forma de beber era aquela de meter o shot de GS a arder e depois de o beber "chupar" o ar fresco dos dedos húmidos da bebida. Bom, que paródia, é que aquilo quando bate... bate mesmo. A dada altura, já o copo de shot estava completametne coberto de melaço e eu com o isqueiro meto a bebida a arder. O copo começa a arder por fora, e pega à mesa que também já tinha bebida. Apressadamente pego n copo em chamas e coloco-o no chão, para apagarmos a toalha. Nisto olho para o chão, já o tapete estava a arder também. Felizmente nada de mais se passou, era mesmo só o melaço que tinha caido sobre a toalha e tapete que estavam a arder, não houve danos materiais, mas pelo sim pelo não, o padre foi buscar um extintor para ali. Um pouco depois estavamos nós novamente a jogar às cartas aparece o outro padre. Este mais velho, menos "dado" a convivios, estranhou estarmos todos no salão tão cedo. Resposta do padre que estava connosco "Hoje levantámos cedo, temos muito trabalho para fazer!". O outro olhou com um ar de "sim pois" e lá foi fazer a oração da manhã. Só tivemos que esperar que ele saisse para a paróquia dele para que pudessemos ir descansar os ossos.

Mas o que tem este meu amigo a ver com o padre Amaro do filme? O facto de ser um padre novo originou a que muita expeculação fosse criada em torno dele e da forma como ele se dava bem com os jovens. Dava para perceber que havia mulheres que olhavam para ele de uma forma muito pouco católica, mas daí a haver alguma coisa... Ele como homem que era também não podia esconder que tinha olhos na cara e que embora se quisesse conter, às vezes não era uma tarefa nada fácil. Quantos dias na praia, no Algarve quando iamos lá passar umas semanas que ele se limitava a ficar sentado na toalha, a ver as babes passarem de bikini, e para ser sincero, não o condeno nem um pouco por isso, mas também digo que não era nenhum rebardado a babar-se com as "carnes à mostra" que por ali passavam, nada disso, era algo super natural, é que afinal de contas que ninguém se esqueça que ele é um homem.

Com o passar do tempo houve alguns casos de mulheres que lhe faziam olhinhos e por aí, mas ele nunca ligou a isso, até que, à coisa de uns 4 anos atrás, conheceu uma mulher que o fez repensar toda a sua vida e todas as escolhas e opções que fez no passado. Houve um envolvimento entre eles, mas nem mesmo aqui eu fico chocado, porque no meu entender a profissão de sacerdote deveria ser encarada como uma outra qualquer profissão, onde não houvesse restrições quanto ao casamento. Outras religiões que não a Católica Apostólica Romana têm sacerdotes casados, e será por isso que eles são menos crediveis ou estarão menos convictos do que professam? Na minha opinião não. Bom, este relacionamento foi durando, sempre às escondidas, é claro, até que um dia le dá-nos a noticia... ela engravidou. Nós não ficámos muito admirados, porque conforme já lhe tinhamos dito, quem anda à chuva molha-se. E nós perguntámos-lhe: "então e agora o que vai fazer?", a resposta dele foi pronta e clara como a água "Como o que vou fazer? Vou assumir!".

Ele mesmo tendo consciência de tudo o que isso queria dizer, nunca hesitou em fazer o que tinha que fazer. Deixou a vida eclesiástica, casou com a rapariga e agora vivem no norte, com os seus filhos, e ele continua mesmo alguns anos depois, a dizer que não se arrependeu da decisão que tomou, e acreditem, a vida dele era muito mais fácil quando era padre do que agora. A solução mais fácil seria realmente sem dúvida a rapariga ter "desmanchado" a barriga, mas ele assumiu a melhor postura que podia ter assumido, e é por estas e por outras que eu o admiro como a poucas pessoas.

Um grande abraço para ele cheio de saudades dos bons velhos tempos.

2 Comments:

Blogger Mim Acha que...

Bem, já ando para ver esse filme há muito tempo, mas também se te disser há quanto tempo não vou ao cinema...não ías acreditar! Agora está decidido, vou arranjar um dia, deixar a miúda com os avós e vou mesmo ao cinema!
Não te vou convidar...afinal já viste o filme e ías passar o tempo a contar a cena seguinte... ;o)
beijo pa ti

quinta-feira, fevereiro 02, 2006 10:12:00 da manhã  
Blogger JPS Acha que...

Eu conheço um padre, assim como o teu, que o maior problema que teve quando decidiu que ia ser padre foi contar á namorada.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006 3:58:00 da tarde  

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